terça-feira, abril 12, 2005

O que nao ]e um documentáro

Muita boa gente tem essa confusao entre documentariuo e reportagem. É de facto complicado para quem está acostumado a nao ver filmes documentarios. Em Cabo Verde qualquer reportagem ou grande reportagem é apelidada de documentario. Erradamente muitos programas do género informativo grande reportagem tem sido chamado de documentário.
O documentário conta uma história. Aqui o autor apenas sugere apoiando-se na narrativa cinematográfica. Aliás, o documentário é produto do cinema, adaptado
à televisao. Por isso mesmo a narrativa utilizada é a do cinema. O documentário difere ainda de uma grande reportagem pela duraçao dos planos. Normalmente são mais longos nos documentarios. No documentario o autor apenas traça o itenirário a seguir sem chegar a conclusões. O desenrolar da historia explica por si os objectivos do autor.
Nao se iludam documentário é fruto do cinema, mas pode muito bem ser concebida pelos dois.

quinta-feira, abril 07, 2005

O pivot ( apresentador)enquanto construtor da informação

O primeiro contacto do telespectador com a notícia no Jornal da Noite dá-se através do pivot.[1] É ele quem anuncia o acontecimento, apresentando-nos um ângulo de visão (função guia); é ele quem gere a palavra dos entrevistados (função moderadora); é ele quem remata as peças ou as conversas com um breve comentário (função enfática) ou gesto ou postura; é ele quem faz as entrevistas, «substituindo» aí o telespectador (função «delegada»). Todas essas funções fazem dele um elemento chave na ligação do mundo aos telespectadores.
Para além daquilo que diz, o pivot transmite informação através de códigos cinéticos, nomeadamente através do olhar. Como afirma Felisbela Lopes; “o eixo do olhar do pivot é um elemento significativo da enunciação televisiva. Olhando o telespectador olhos nos olhos, o apresentador coexiste com o seu receptor no mesmo lugar e no mesmo espaço, afirmando a realidade do mundo que transparece através do ecrã”. (Felisbela Lopes 1999, 82).
Como sublinha Felisbela Lopes, “olhar dirigido para o papel significa o imprevisto, o excepcional; os olhos concentrados num plano inferior esperam a difusão de uma peça; o olhar lateral marca a passagem da palavra a um entrevistador ou comentador. (Felisbela Lopes1999,82).
Citando um trabalho de Pedro Mácia, (televisión hora cero, Madrid, Erisa 1981) Felisbela Lopes afirma que:
“O apresentador do telejornal pode insistir em manter-se à margem dos factos que anuncia, cultivando um modelo comunicacional em que o seu papel se confina ao de mero mediador de postura séria e pouco expressiva ou adoptar um modelo personalizado, passando de mediador a protagonista, revelando o seu lado mais pessoal e impondo, por vezes o “star system” no qual interessa, mais do que a notícia, quem apresenta.” (Felisbela Lopes 1999, 83).
Pelas palavras de Felisbela Lopes, o apresentador aparece aqui como uma figura determinante para a compreensão da mensagem. A forma como ele "diz" os textos pivots,[2] o tom de voz que ele utiliza e os gestos que faz, podem interferir na percepção da mensagem. A encenação das notícias acentua-se, ficando a realidade cada vez mais distante. De acordo com Felisbela Lopes,
“A encenação que rodeia dispositivo audiovisual, a baixa produtividade informativa imposta pelas imagens, a manipulação da notícia em directo e a escassez de temas tratados levam-nos a concluir que a informação tyelevisiva, mais do que um momento de informação, incute no cidadãop a ilusão de estar informado.” (Felisbela Lopes, 1999,84)
[1] Aquele que apresenta as notícias no Jornal da Noite.
[2] Significa também o texto lido antes de cada peça.
Fonte: memória monografica de bacharelato de mário benvindo cabral.

Televisão de qualidade

A promoção de uma televisão de qualidade não deriva apenas da vontade dos seus programadores, estando antes condicionada pelos recursos financeiros disponíveis, e consequentemente pelo quadro do pessoal que integra. Sem uma sólida segurança financeira será certamente difícil produzir séries e documentários ou produções de grande envergadura. Mas dinheiro não surge do nada. É preciso criar serviços de qualidade que interesse ao público. A venda de algum material de arquivo é apenas um exemplo de muitas outras iniciativas que podiam ser seguidas para facilitar a entrada de mais algum.
Sem recursos humanos de talento, será complicado inovar e transformar programas de interesse público em espaços de interesse do público. Por isso, a nosso ver, urge criar mais espaços de debate do mundo audiovisual. Urge aproveitar mais as oportunidades de formação e reciclagem. Em resumo urge acompanhar as novidades, ainda que esse acompanhamento se opere apenas a nível do conhecimento.

segunda-feira, abril 04, 2005

1ª Sessão Africadoc 2005- Mindelo

De 23 a 31 de Março, decorreu em Mindelo a 1ª sessão do africadoc 2005. Foram 10 os participante, sendo 3 caboverdianos; dois residentes e um da diáspora.
A ministrar esta sessão estiveram 2 peritos do cinema documental; Luis correia e Noemy . Estes dois peritos contam já com uma experiencia invejável no mundo do cinema.
Eis aqui os projectos e os respectivos autoreS:
Cabo Verde:
Cidade Velha, o Berço de Mário Benvindo Cabral
Música de Cabo Verde: Joaquim Livramento
Retornado: Víctor Pires (candidato da diáspora)
S. Tomé e Príncipe
Para Além do Batepá de Miguel Enweren
Angola
As Zungeiras de António Adi
Moçambique
Salão Britney Spears de Raquel Jenkins
Raízes Cortadas de Flora Mossoshua
Kupita Kufi de Germano Vasco
Guiné Bissau
À deriva de Suleimane Biai
A voz do povo de Adulai Djamanca
Estes 10 projectos estarão em Goré, Senegal, a partir do dia 28 de Abril à procura de finaciadores. Na sessão do PITCHING, vão estar presentes as principais estações de televisão da Europa.

quinta-feira, março 17, 2005

A linguagem no Jornal da Noite

Um dos elementos mais importantes na compreensão da mensagem do Jornal da Noite é, sem dúvida, a linguagem, que tem como característica garantir a verdade dos conteúdos do discurso e também a própria credibilidade do anunciador. Uma outra característica, não menos importante é a de dar sentido às coisas. Toda a experiência que supõe o uso da linguagem implica, portanto, construções de sentidos. Neste contexto, ao realizar escolhas no processo da construção do acontecimento como notícia, os profissionais da televisão imprimem significado aos factos. Sobre isto Bourdieu afirma: “Os jornalistas, grosso modo, interessam-se pelo excepcional, pelo que é excepcional para eles. O que pode ser banal para outros poderá ser extraordinário para eles e ao contrário. (Bourdieu 1997, 26).
Na perspectiva de Bourdieu, o produto final acaba por exprimir a visão do mundo sob o ponto de vista tanto do jornalista como do operador de câmara, a imparcialidade do discurso jornalístico mostra, deste modo, o seu caracter mitológico, para não dizer utópico.
A notícia quer-se como retrato dos acontecimentos, relatado com maior objectividade possível. A sua forma de apresentação, em termos de linguagem pode conduzir a várias interpretações, dando ideia que o telespectador não é passivo diante da mensagem.
Ele interage com ela; o sentido da notícia é reavaliado por ele e, muitas vezes, a sua interpretação da mensagem pode não ser a desejada pelo emissor desta, contribuindo, assim, para a produção de outras realidades que não eram objectivos do emissor.

fonte: memória monografica de Bacharelato de Mário Benvindo Cabral

sábado, março 05, 2005

o que é o ÁfricaDOC

Um país sem documentários é como uma família sem álbum de fotografiasPatricio Guzmán, realizador chileno

Tendo em conta que os países de expressão portuguesa em África estão a viver um momento de consolidação e afirmação, e sabendo que a produção audiovisual pode ser um importante factor de desenvolvimento, quer a nível interno enquanto veículo privilegiado para o ensino e para o reforço da identidade cultural, quer como instrumento de valorização e promoção do país face ao exterior, vimos deste modo apresentar o projecto ÁfricaDOC.ÁfricaDOC é um programa de formação destinado a realizadores e produtores de documentário dos países africanos de expressão portuguesa (e francófonos) e tem como objectivos principais contribuir para a emergência de novos criadores, possuidores dos conhecimentos necessários para a integração no mercado de produção internacional, estabelecer um tecido de competências e afinidades profissionais transnacional e promover o desenvolvimento e financiamento de projectos de potencial internacional.
fonte:www.africadoc.com

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

A estruturação narrativa do Jornal da Noite

O Jornal da Noite tem a sua estrutura própria, ganhando em muitas paragens o estatuto de género. Apoia-se em formas específicas: o genérico, o Headlines, o olhar do (a) apresentador (a) e a as pontuações.

a) O genérico
O Genérico é a parte que inicia e finaliza o espaço informativo. No Jornal da Noite da Televisão de Cabo Verde, de 2001, o genérico teve a duração de 30 segundos e apresentou-se em tons laranja, branco e azul.
O genérico do Jornal da Noite estabelece o contacto com o telespectador e significa que se trata de um programa cuja matéria principal será o relato do recente, exposto de forma jornalística. O genérico contém imagens referentes aos «grandes» acontecimentos, nacionais e internacionais bem como alguns pivots de jornalistas. O genérico inicia e finaliza o espaço informativo. O som marcante, tem a intenção de chamar ao longe os telespectadores. Normalmente tem a duração de trinta segundos. As cores predominantes são as mesmas do cenário.

b) Os Headlines
Os Headlines[1] do Jornal da Noite indicam tudo o que vai ser tratado no espaço. Os títulos normalmente são dados sob a forma de frases completas, (sujeito, verbo, complemento), contendo cada uma um enunciado de uma informação, compreensível em si mesma.
c) O Olhar do pivot (apresentador)
De acordo com Jespers,
“O olhar do pivot (apresentador) é um sinal essencial do tipo de discurso que se está diante dos olhos do telespectador acerca disso: Se o apresentador olha o telespectador nos olhos (no eixo y-y), é porque está para lhe contar uma história verídica., para lhe dar uma informação referente a uma realidade. Pelo contrário, se o apresentador desvia o olhar, coloca na pele do telespectador, fala ou olha em vez dele.” (Jean Jaques Jaspers, 1998, 178)
Muitas vezes é difícil perceber o olhar do pivot, porque com o uso do teleponto, torna-se difícil para os leigos distinguirem o que é dito do que é lido, pois o apresentador (a) fixa o olhar sobre a objectiva «encarando» o telespectador sempre nos olhos.
O discurso do Jornal da Noite é intencionalmente tenso, tentando provocar interesse constante do telespectador, que não tem chance de relaxar. O Jornal da Noite precisa seduzir o telespectador todo o tempo. Esse papel de cativar o telespectador é feito pelo apresentador (a).
O apresentador (a), enquadrado num plano próximo,[2], lê os textos-pivot[3] através do teleponto.[4] Em cada intervalo insiste em chamar a atenção do telespectador utilizando expressões como «daqui a pouco», «veja a seguir» ou «confira logo após o intervalo», etc. Estas frases são acompanhadas de imagens e sons «fortes» dos assuntos que se pretendem destacar.
O ritmo narrativo do Jornal da Noite é intencionalmente acelerado, tentando produzir um discurso dinâmico, a impressão da actualidade, a sensação de imprevisibilidade. No tempo destinado ao jornal o telespectador é convidado a dar um rápido passeio por Cabo Verde e pelo mundo, através de um processo hierarquizado dos acontecimentos.
[1] Resumo do que se vai tratar no espaço, síntese.
[2] Plano que enquadra do peito para cima.
[3] Texto que o (a) apresentador (a) lê antes das notícias.
[4] Máquina ajustada à objectiva da câmara que passa os textos previamente digitados num computador.

A primeira notícia (notícia de abertura) no Jornal da Noite do ano 2001

Os assuntos políticos (estado, diplomacia, partidos políticos e parlamento) foram os mais reiterados. Em 79 edições foram, por 39 vezes, tema de abertura. A categoria estado (que aglutina a Presidência da República, o governo e seus representantes) a figura do primeiro-ministro abriu o jornal 13 vezes num total de 27. As resoluções do Conselho de Ministros foram, por quatro vezes, tema de abertura. O Presidente da República foi seleccionado uma vez e as restantes 9 aberturas relataram as acções dos vários ministros.
Em termos individuais, a segunda categoria mais frequente na abertura do Jornal da Noite foi a referente a «outros», com um total de 7 ocorrências, representando cerca de 9% do total das aberturas.
Com cerca de 8% do total surgem-nos as notícias internacionais, com destaque para os acontecimentos de 11 de Setembro nos EUA. Os sectores estruturantes da sociedade (saúde, educação e economia) conseguiram em conjunto cerca de 11% do total das aberturas, o que mostra que apesar de não serem tão expressivos conseguem lugares de destaque no Jornal da Noite.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

A Edição montagem

O conceito por trás da edição linear é simples: segmentos do material original de um ou mais cassetes são copiados para outra fita. No processo, as tomadas más são eliminadas, os segmentos escolhidos são ordenados e efeitos de áudio e vídeo incluídos.
O sistema de edição linear só permite cortes lineares, isto é, a cena 1 seguida da cena 2, seguida da cena 3, e assim por diante. Isto requer organização e planejamento. O editor deve estudar bem o material, anotar a localização dos takes que pretende usar e preparar um roteiro de edição, definindo a ordem das tomadas, tipo de transição entre os takes, a entrada de títulos e créditos, trilhas e efeitos sonoros.
A ilha de edição linear é composta de um ou mais videocassetes player - onde é colocada a fita de vídeo com a gravação original, um recorder , onde é colocada a fita que será editada e um edit controller , que controla as duas ( ou três ) máquinas. A fita contendo a edição final é chamada de master .
O editor utiliza o contador digital do painel do edit controller, para localizar segmentos na fita original e anotar os pontos de entrada (início) e/ou saída (final) dos takes que serão utilizados na fita master. O painel 00:00:00:00 mostra em horas, minutos, segundos e frames (quadros de vídeo), a localização dos takes na fita. O contador pode ser programado para a leitura dos sinais de CTL ou Time Code. CTL - Control track - são pulsos de controle, gravados na fita, simultaneamente, com os sinais de vídeo e áudio. Estes pulsos servem de referência para a localização dos segmentos na fita de vídeo. O sistema NTSC utiliza 30 pulsos, por segundo.
Este método de referência tem duas grandes desvantagens. Primeiro, depende inteiramente do equipamento, para manter uma contagem precisa dos milhares de pulsos de control track. E esta é uma tarefa difícil para aparelhos mecânicos.
Durante a edição, o operador está constantemente enviando a fita para a frente ou para trás, em diferentes velocidades para marcar os pontos de edição. Se o equipamento perde a conta dos pulsos, ainda que por uma fracção de segundos, a numeração que indica a localização do segmento não terá precisão e apresentará diferença de vários frames no contador.
Editores experientes ficam de olho no contador digital, enquanto a fita se move, para detectar paradas momentâneas, que significam que o equipamento perdeu a exactidão na contagem dos pulsos de controlo (CTL). Estes problemas são causados por defeitos na fita de vídeo, ou na gravação do control track. Por isso, use sempre fitas de bons fabricantes e fique atento durante a gravação, para não deixar pedaços de fita virgem, entre os segmentos gravados.
S egundo, a contagem dos pulsos de control track só é válida durante aquela sessão de edição. O equipamento não tem memória para arquivar a lista de decisões EDL (edit decision list) , tornando impossível a reedição automática da fita, caso se deseje fazer mudanças no master.
O método de edição linear foi o primeiro a ser adotado e ainda é o mais utilizado no mercado. E embora seja a maneira mais rápida de se montar uma sequência simples, é um método de trabalho bastante limitado e restrito, quando comparado aos modernos e sofisticados sistemas de edição não-linear.
Edição em Insert e Assemble
N a edição linear existem dois modos de edição: assemble e insert .
Na edição em assemble , gravamos na fita master, os sinais de áudio e vídeo associados ao respectivo control track. É muito difícil gravar os pulsos de CTL com total exactidão, à medida que, adicionamos segmentos e fazemos novos cortes. Qualquer problema de tempo (que ocorra durante este processo, basicamente mecânico) resultará num corte defeituoso - um glitch no vídeo. Por esta razão, a edição em assemble só deve ser realizada em edições curtas, onde a prazo é um factor crítico.
A edição em insert requer preparativos: é necessário gravar uma "base" - um sinal de vídeo (geralmente, preto) gravado ininterruptamente - na fita master, antes de se iniciar o trabalho. O fluxo contínuo, dos pulsos de controle (CTL), servirá de referência para o contador digital do recorder e irá garantir a estabilidade da imagem durante a reprodução (playback) da fita master.
Durante a edição, no modo insert, gravamos apenas os sinais de áudio e / ou vídeo, sobre a base, utilizando os pulsos de CTL já gravados. O que resulta numa reprodução mais estável da fita.
A edição em insert possibilita a substituição de segmentos de áudio ou vídeo, por outros com a mesma duração. No entanto, é impossível, encurtar ou aumentar as sequências já editadas.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

A produção do Jornal da Noite


O cenário do Jornal da Noite em 2004

Para analisar o conteúdo do Jornal da Noite sem distorções é preciso ter um domínio relativo sobre a sua produção, conhecer o papel dos principais actores que participam na elaboração do Jornal da Noite.
A produção do Jornal da Noite é da responsabilidade do Departamento de Informação da TCV, mas acaba por ser um trabalho com a participação de todos os departamentos, pois, pela sua importância na programação e pelo seu carácter aparatoso em termos de produção merece a atenção de todos os funcionários da estação.
Não há dúvida que o Jornal da Noite ocupa um lugar estratégico na programação da RTC. Emitido no horário nobre da RTC, salvo algumas excepções, este programa é o mais excelso, em termos de preparação. Cerca de trinta e cinco pessoas estão envolvidas todos os dias por turnos, na realização e edição do Jornal da Noite. É um trabalho de equipa, onde a responsabilidade do jornalista e dos outros obreiros é difícil de circunscrever.
O Jornal da Noite é preparado durante todo o dia. Na sua produção participam jornalistas, operadores de câmara, editores de imagem e som, operadores de som e de VTR, realizadores e todo o staff da redacção; Secretária, Editor Chefe e Chefe de Redacção.
Na produção de notícias, temos, por um lado, a cultura profissional; e por outro, as restrições ligadas à organização do trabalho sobre as quais são criadas convenções profissionais que contribuem para definir a notícia e legitimam o processo produtivo, desde a captação do acontecimento, passando pela produção, edição, até à apresentação.
A produção do Jornal da Noite pode ser sintetizada em três etapas principais; a gravação, a montagem e a emissão. Os temas a serem notícias são escolhidos pelo Editor Chefe e pelo Chefe de Redacção, depois de «terem em mãos» as notas emanadas por algumas instituições, ou por outras entidades.
As notícias de outros quadrantes também são seleccionadas pela equipa que dirige o Jornal, o Chefe de Redacção e o Editor do Jornal, embora algumas partam da iniciativa dos jornalistas, isto quando o número de notas oficiais escasseia. Os responsáveis do Jornal funcionam, deste modo como gatekeepers[1], na medida em que filtram, através das suas preferencias, aquilo que acham menos importante.
De acordo com Traquina, “o termo «gatekeeper» refere-se à pessoa que toma uma decisão numa sequência de decisões (...) ” (Traquina2002, 77), Como se pode perceber a selecção da notícia não acontece por acaso. Só são notícias aqueles assuntos que forem escolhidos pela direcção do Jornal.
Depois de escolhidos os assuntos a serem notícias são elaboradas as escalas de saídas, ou seja, é atribuída a cada jornalista uma tarefa. Assim, antes da saída deste para a reportagem o jornalista e o operador de câmara consultam a escala do dia, elaborada pelo staff da redacção. De regresso, quando já tiverem tudo gravado, vão «visionar» toda a cassete ao mesmo tempo que o primeiro elabora o texto da peça. As imagens que interessam ao jornalista são registadas, usando o time code,[2] para facilitar a sua localização na altura da montagem. De seguida vai fazer gravar a voz off, para depois se iniciar a montagem.
Na montagem da notícia, o jornalista é coadjuvado pelo editor (operador de montagem). Começam por fazer a estrutura da peça; o «esqueleto», formada pela voz off e pelos depoimentos (Vts). A seguir fazem a inserção de imagens sobre a voz off. Por vezes, há ainda a necessidade de misturar os sons do ambiente em que decorreu a gravação dos depoimentos com a voz off e/ou dos entrevistados.
A edição promove o encadeamento de sequências, num raciocínio lógico, construindo a realidade de forma harmónica de imagens, entrevistas e sons que autenticam o que está sendo narrado, na perspectiva do jornalista. Tudo é montado para que o telespectador não tenha dúvidas de que o que ele assiste é o real, e não a elaboração deste.
Terminada esta fase a peça é recolhida pela Secretária da Redacção que vai anotar a duração da peça e a deixa[3] na folha de alinhamento do Jornal. Os alinhamentos são elaborados manualmente pelo Chefe de Redacção e pelo Editor. São estas as figuras que decidem também a sequência das notícias.
Na última etapa do processo de produção do Jornal, o apresentador tem um papel preponderante. É a ele que cabe o papel de mostrar que tudo o que veicula o Jornal da Noite é real, apoiando-se nas qualificações técnicas de apresentação. Acerca do apresentador do Jornal televisivo, Jespers afirma:
“O apresentador tem em geral o aspecto de uma pessoa agradável, educada e não agressiva. Pode-se chegar a conceber o seu papel como o de um psicoterapêuta: o apresentador do T.J[4] teria por função dar ao mundo uma imagem positiva, atenuar a angústia do público face aos dramas e às dificuldades sociais e económicas que fazem a actualidade.” (Jespers 1998, 180).
No Jornal da Noite, muitas vezes, a comunicação oral do apresentador (a) vem sempre acompanhada de expressões corporais, responsáveis pelo «subtexto», um elemento expressivo de suma importância para a compreensão de certos comentários. Ao utilizar «este acessório» da linguagem, o apresentador (a) entra no espaço da representação, que não deve ser dissociado da encenação.
[1] Pessoa que toma uma decisão na sequência de decisões, filtradores de notícia
[2] Relógio que conta o tempo com precisão do frame (quadro de imagem), usado para marcar pontos de edição nas fitas. Marca horas, minutos e segundos e fotogramas ou frames.
[3] Última frase de cada reportagem.
[4] Telejornal

Este texto é parte da memória monografica de bacharelato. Disponivel na Bbiblioteca da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

A programação da TCV

A programação da TCV

Olhando diariamente os programas da TCV, a interrogação é inevitável: Onde está a televisão de Cabo Verde? A resposta é simples: em lugar nenhum. Mais grave ainda, a cultura brasileira vem ganhando cada vez mais espaço no que nós produzimos e consumimos, atropelando o imaginário das crianças e da grande massa que vive a telenovela. Quem disse? O meio que nos rodeia. Quantos não preferem as havaianas, as roupas da Jade, o artesanato "vindo de Fortaleza", ou mesmo a música de artistas brasileiros (pagode)? Não pensem que o meu ponto de vista é xenófobo. Nada disso, até por que prezo muito a cultura deste país etenho muitoa amigos brasileiros.
É certo que incutir qualidade a uma grelha leva o seu tempo. Mas já se passou tempo demais neste “vai-não vai”, e até ainda as vozes críticas relativamente à programação continuam a fazer-se ouvir. Culpados? O Governo, por incapacidade de injectar mais dinheiro na TV ? Os gestores da RTC por não conseguirem neutralizar o buraco financeiro que se avoluma com o passar dos tempos? Os directores de programação e de informação, que se renovam antes de ver concretizadas as suas decisões? As instâncias responsáveis pelo acompanhamento da actividade da RTC que reiteradamente se queixam da falta de meios para trabalhar? Os telespectadores que mais não fazem do que ficar no seu cantinho a pagar passivamente a taxa para ver o que se oferece?
Precisamos agir o quanto antes, se quisermos ver uma telvisão pública de qualidade. Como? Apostando na formação e gestão criteriosa dos recursos disponíveis. Quem diz que os meios são poucos tem razão, mas não deve esquecer que se pode fazer trabalhos com qualidade a baixo custo.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

A caixinha mágica


"A idéia de trabalhar com imagens está ligada a história da civilização. Já nos tempos primitivos, o homem deixava suas impressões em forma de desenhos para que gerações posteriores pudessem aprender ou os reverenciar."
MAURICIO VALIM
Agosto de 98
Serviço público de televisão: a crise
Perspectivando globalmente a situação do operador público de televisão, confrontamo-nos com um panorama audiovisual confrangedor. Acumulação de dívidas, uma grelha de programação previsível e pouco criativa que mais parece uma rotina. A pergunta é inevitável: quem inverterá o rumo da RTC? Os poderes políticos, certamente. É aqui que começam todos os problemas.
Neste jogo do empurra-empurra em que cada um quer protagonizar o controlo sobre o audiovisual público, tende-se a esquecer o mais urgente: as reformas de fundo de que tanto necessita o canal públicos que vive no já no limiar do precipício.